terça-feira, 29 de abril de 2014

Memórias de Abril

Comemorações do 40º Aniversário de Abril em Lisboa



















Às 7, 30h de 25 Abril de 74 o meu tio telefonou de Lisboa  à minha mãe avisando-a que estava na rua uma Revolução, aconselhava-a a ter algum dinheiro em casa e a dispensa cheia pois não sabia o que se iria passar.
Nesse dia não fui à escola porque estava com uma gastroenterite, os meus pais foram trabalhar como de costume e eu pressentindo a presença das minhas vizinhas em casa, por não terem tido aulas, desci e com elas passei  o dia a ouvir os comunicados do MFA. Para ser honesta, tenho de dizer que  não percebíamos nada do que se passava pois nenhuma de nós tínhamos consciência política.

O Medo não permitia grandes conversas mas mais tarde percebi que  elas existiram embora veladas.

Lembro-me do meu pai ter chegado a casa uns meses antes com um livro e da minha mãe ter ficado tão assustada que o escondeu. Este, só muito depois de Abril ganhou lugar  na estante, tal era o MEDO.

Lembro-me da alegria da minha prof. de Educação Musical ao dizer-nos que finalmente festejaria o seu aniversário sem Medo que  PIDE lhe entrasse em casa por estar em festa. Ela nascera a 1 de Maio e nunca festejara o aniversário.

Como vivia na província os acontecimentos eram bem mais moderados que na Capital, no entanto lembro-me do 1º de Maio e da euforia com que se viveu, lembro-me da cara e das conversas de mães aliviadas por saberem que os filhos já não partiriam para a guerra.

Lembro-me das filas imensas nas assembleias de voto nas 1ªas eleições Livres.
Lembro-me ............

Se no início Todos queriam participar, à medida que os anos passaram e  a Democracia era  tida como um dado adquirido vi as pessoas demitirem-se de A  alimentar com ideias, com trabalho e com acções.

Sinto que os jovens que nasceram e cresceram em Democracia não têm a menor ideia do que era viver antes de Abril.

Não tenho cor política, vivi a maior parte da minha vida em Democracia mas sei  pelo que li e estudei que Não Quero viver em Ditadura seja ela de direita ou de esquerda.




5 comentários:

  1. Eu nasci 4 anos após a revolução, não sei o que foi viver em ditadura, mas recordo-me do que os meus pais contavam, mesmo que escassas vezes... e sei que não quero nunca viver num tempo desses!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E é bom que passemos esses valores aos mais novos.

      Eliminar
  2. Belíssimo testemunho! Pbs !
    Beijinhos :)
    mariam

    ResponderEliminar
  3. Neste dia, estava eu ainda a caminho dos meus 6 anos. Morava em Lisboa e lembro-me de ouvir "foguetes" na rua e correr para a janela. Fui derrubada pela minha mãe que se apressou a trancar tudo e a explicar-me que eram tiros. Depois lembro-me de ir festejar para a rua e andar em Belém em cima dos tanques com os "magalas" a servirem de ama-seca às inúmeras criancinhas!

    ResponderEliminar