Sempre tive paixão por objectos com história e quando esses objectos fazem parte da minha história a sua preservação impõem-se.
Há tempos mostrei-vos objectos de escrita, hoje trago-vos algumas peças que fazem parte das minhas lembranças de criança.

Esta é a peça mais antiga.

Esta a mais recente, será que alguém as reconhece e conhece a sua função?

Estes objectos pertenceram à minha avó e posteriormente à minha mãe. Com eles a minha avó contribuiu para o orçamento familiar.

Com esta foto será mais fácil perceberem do que estou a falar.

Estes, eram os objectos que a minha avó usava para apanhar as malhas nas meias de vidro.
As
meias de vidro foram apresentadas pela 1ª vez na Feira Mundial de Nova Iorque a 27 de Outubro de 1938, até então as Senhoras usavam meias de lã, algodão e seda estas últimas muitíssimo caras, a nova fibra sintética o
nylon veio revolucionar esta peça de vestuário, as meias eram muito mais baratas mais finas.
Apesar de serem muito mais baratas que as de seda estas ainda não estavam acessíveis a todas, além disso durante a Segunda Guerra Mundial a utilização do nylon nos pára-quedas, nas tendas e nos fatos quase fez parar a produção das meias , estas tornaram-se num bem escasso e impunha-se o arranjo e a recuperação das mesmas.
Qualquer unha ou prego de sapato era o suficiente para fazer correr uma malha na meia e esta tornava-se inestética.
Surgiu então uma nova profissão as Apanhadeiras
de Malhas de Meia.
Lembro-me muito bem de ver a minha avó e mãe a apanharem as malhas nas meias. A meia era enfiada no copo e esticada a barbela da agulha num movimento
de vai vem tecia novamente a fibra , no final da malha apanhada, rematava-se com um fio do mesmo ton.

A estas agulhas podia adicionar-se um motor eléctrico que facilitava a apanha das malhas, na minha casa nunca houve esse motor, era caro e nunca houve hipótese de adquiri-lo.
Graças a esta profissão a minha avó podia estar em casa, cuidar dos três filhos e conhecer meia cidade. Muitas eram as Senhoras que se dirigiam a sua casa para ela lhes restaurar as meias.Apesar de ter tido pouca instrução era uma pessoa culta e informada, lia bastante e era perfeita no trato e na linguagem daí que as Senhoras fossem elas mesmas à sua presença para aproveitar dois dedos de conversa, enquanto as meias eram recuperadas ao invés de mandarem as empregadas.
Fez grandes amizades e clientela nunca lhe faltou.
Hoje seria impensável alguém ter esta profissão, o custo das meias não justifica o arranjo e duvid0 que ainda haja muita gente que o saiba fazer. A minha tia Teresa sabe e tem o material necessário, mas não o faz, devia pedir-lhe que me ensinasse era giro saber fazê-lo.